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quarta-feira, 7 de abril de 2021

O prazer de fazer o que se quer fazer.

Ontem eu retornava para casa e parei há poucas quadras do destino ao ver uma senhora vendendo pastel na porta da sua residência. Deu aquela vontade de comer um pastelzinho caseiro igual dos tempos de escola técnica! Sem remorso, preocupação ou culpa, apenas vontade. Desci do carro e saí indócil em direção a porta, a boca salivava, o coração palpitava, parecia um menino ansioso pela chegada de um dos pais com algum quitute, mas seria eu o comprador e a criança naquela hora, de qualquer forma a sensação era "ipsis literi".

Cheguei em frente a senhora e ela com um sorriso que dizia muita da sua índole. Era uma pessoa do bem a ganhar uns trocados com um trabalho digno!

Me falou: quer pastel de quê?

Respondi: De queijo, mas quanto custa? E curiosamente perguntei também: quanto tempo faz que a senhora vende pastel?

A replica foi: são 4 reais e já estou aqui há seis anos e trabalho as quintas, sextas e sábados à noite.
Falei: nunca vi, e olhe que venho algumas vezes na semana no boteco do Edin aqui do lado. De qualquer forma, tenho cinco reais, vou comprar seu pastel e passar o carnaval com um real...
Ela sorriu, e falou: Deus dá mais!

Sorri e aguardei ela pegar a massa para fazer o pastel. Ela entrou e reparei que haviam dois pasteis prontos e um senhor em uma mesa na calçada dela comendo mais dois. Era um senhor pouco obeso, de uns sessenta anos, deveria estar no caminho para casa, pois vestia as roupas do trabalho, parou motivado, talvez, pelo mesmo incentivo que o meu, um prazer infantil.

Comprovei minha suspeita ao fitar meus olhos no senhor o que me deixou atônito. O senhor comia um pastel como se fosse a última refeição da vida. Cada dentada vinha precedida de uma respiração profunda de apreciação do aroma do pastel, seguida pela métrica do pedaço para aproveitar cada parte com mordidas sincronizadas, precisas e compassadas, o processo findava com a deglutição da massa e um suspiro longo, um olhar para o pastel e a repetição do processo de forma lenta e concentrada naquele momento, naquela situação, quase um budismo no pastel.

Vi aquele processo entorno de duas vezes e senti prazer por ele. Não tinha culpa no comer, era felicidade, satisfação, prazer, gosto, um sem números de substantivos. Não tinha dieta, diabetes, proteção das coronárias, ou qualquer coisa que fizesse aquele homem desconcentrar daquela prática alimentar.

A mulher chegou e me entregou o pastel, então perguntei: Esses outros dois pasteis prontos são de quem? Ela apontou para o senhor sem falar uma palavra, apenas sorriu um sorriso de certeza que o seu ofício é bem feito.

Cheguei em casa, comi o pastel com meus filhos e esposa. Adotei a postura do senhor que eu havia observado. Senti o aroma, mastiguei em compasso e degustei. Foi maravilhoso! Depois fiquei imaginando o senhor finalizando um pastel, certo do próximo e com mais dois o aguardando, talvez para levar para casa, talvez para comer ainda ali.

Que felicidade!!!

O sabor das coisas.

 Na manhã de domingo me levanto para fazer bruaca cearense.

Duas xícaras de farinha de trigo, duas xícaras de leite, duas colheres de açúcar e bato no liquidificador, depois, frito porções do tamanho de um descanso de copo em uma frigideira untada com manteiga ou margarina.

Nada de especial, mas os filhos adoram.

Pus-me a refletir: mas, por quê?

Eis a conclusão:

Não é o material que cria o sabor, obviamente há uma diferença entre o tipo de açúcar; ou a farinha de trigo; se coloco leite in natura em pó ou outro... Enfim, faz alguma diferença.
Mas o que importa mesmo fui encontrar nas minhas lembranças.
Lembrei da Tia Miúda e de sua bruaca de farinha de milho. I-nes-que-cí-vel!
Lembrei da bruaca da Tia Nedina com a adição de ovo e um ponto ideal.
Lembrei da panqueca (Será!) da Dona Livina, ah que “crocância”.
Lembrei da Tia Deni e o sabor doce do quitute, quase um mel e que derretia na boca nas primeiras dentadas.
Lembrei da cozinha da minha mãe, o cheiro, a saliva na minha boca, o aroma de café...
Que lembranças!

Notem, muitas mulheres e dentro delas um amor no fazer, no tratar, no lidar, no preparar a refeição, simples e sem muitos "nutrientes".

E o sabor, ah o sabor, este não é compreensível, porque não é o dos ingredientes, mas o do memorável momento de comunhão, fraternidade, amor e felicidade. A certeza de estar "embraçado", protegido e por fim, ao saciar o material, cheio de tudo que é bom não apenas de alimento do corpo, mas de alimento da alma.

Hoje, no caminho para o trabalho, observei.


Observei que ainda existem árvores em Fortaleza;
Observei que o vento ainda faz elas dançarem;
e
Observei que as árvores da minha infância ainda estão lá.
Tinham mangueiras ou "pés de manga", "saputiseiros", coqueiros, "pés de cajás", e outros mais. Entretanto...
Observei uma que me fez pensar muito nos anos que se passam.
Observei uma enorme "castanhola".
Castanhola quando velha tem um troco robusto, fornece um fruto que é comestível e em sua semente há uma amêndoa que pode ser comido ao quebrar a casca. Além da sombra e do fruto o "pé de castanhola" possui um morador que aterroriza aos meninos, o besouro potô, pois ele apresenta um odor característico que elimina possívelmente por urina para se defender dos meninos que circundam a sua residência.
De qualquer forma. Observar a castanhola lembrei:
Que na infância comíamos frutos desta árvore, suas amêndoas e a usávamos como referência de brincadeiras e para encontros e conversas acaloradas sobre assombrações e outras coisas mais.
Que saudade de sentar ao tronco de uma castanhola, curtir o calor cearense, conversar com Neto sola, Edson Animal, Cleiton Oi de Girassol, Alisson Nariz de Chuchu, Leandro, Adriano Bocão e outros... Talvez brincaríamos de bandeirinha, talvez de cuscuz, mas ao final iríamos para casa felizes e sujos sabendo que a castanhola estaria lá nos aguardando no outro dia.
Agora sei, ela está lá... Ainda tem castanholas na minha Fortaleza!

O tempo passa, mas só notamos com supetões.

 Acordamos e não vemos aquela pequena diferença no rosto da noite mal dormida, da festa alongada com doses de cerveja, dos sorrisos em círculos de amizade, do cansaço do dia anterior, do sexo extenuante ou da frustração de não ter se garantido como se queria, da preocupação com a conta por pagar, ou da que vai vir, simplesmente não notamos.

As mudanças na nossa feição são lineares para nós, pois praticamente todos os dias nos vemos, mas acontecem em tudo e em todos. Somadas, vão em vários sentidos. Pura matemática! Quando juntas, geram uma não-linearidade absurda! E o tempo contribui para elas nos surpreender.

Precisamos de uma referência para notar. O final do ano, geralmente serve como tal. Um ano sem ver um parente e eis que ele se casou, assumiu a homossexualidade, teve um AVC, descobriu um CA, se agregou aquele grupo neonazista, se intitulou marxista ou liberal, e por aí vai.

No final do ano, todas essas notícias surgem de supetão. As descobrimos em confraternizações, encontros de ex-alunos do colégio, ou em um encontro casual com um colega que há muito não se vê.
Bate aquela nostalgia!

Saudades de tempos que poderiam ter ocorridos pari passu, mas que por motivos diversos foram por vetores divergentes: um amigo terminou o curso e foi morar em outro estado; outro ficou doente, retornou e passou a cuidar mais de si e se distanciou; outro foi embora mesmo, porque queria ter uma experiência diferenciada. Enfim, rompemos a linearidade que estávamos acostumados e cada um seguiu seu rumo. Agora no encontro lembramos daquele tempo, mas não temos mais os tempos perdidos.
Porém o tempo que foi vivido foi tão intenso que agrega. E eis a magia: anos, meses, dias depois, encontramos e temos o que falar. Embora o supetão das mudanças nos surpreenda, temos certeza de que vivemos momentos eternos em nossos corações. 

A liberdade em pequenos atos. Viva!

 Relatei aqui o meu hábito matinal de fazer café e a liturgia que sigo, mas há mais no dia a dia e o pós café, ou pós refeições tem um efeito especial. Logo após as refeições me responsabilizei por lavar os talheres de casa. Sou bom nisso, mas não sou bom em arrumar posteriormente, e o arrumar fica para minha querida. De qualquer forma, venho observando o ato em si, a profundidade dele e o quanto ele me enche de sensações.

Bem e o que o lavar de talheres, pratos, copos etc. tem a ver?

Tem tudo pessoal. 

Vejam no relato:

Termina a refeição, todos se levantam da mesa, é uma sistemática familiar, e eis que pego pratos, colheres etc. e levo a pia. Ela estrategicamente localizada. Na minha frente uma janela que dá para uma mangueira onde vive uma família de gaviões que me fazem companhia no lavar.

Retorno a mesa, passo o pano para retirar os excessos e retorno ao posto de trabalho. A pia é mágica. Aquele monte de coisas, tudo caótico, pratos embaixo, colheres ao fundo, do lado, copos na cuba ou fora dela. Enfim, preciso iniciar organizando: colheres para direita, pratos e artefatos maiores no fundo da cuba, panelas de fora ainda, copos do lado dos talheres, pano de prato no ombro, esponja a mão e detergente ou sabão ao fundo. Olho para janela, respiro fundo, terei bastante trabalho dessa vez.
Respiro novamente, olho pela janela, vejo a mangueira balançar e uma manga amarelinha cair, apenas um momento de distração. Ligo a torneira e, ainda olhando o horizonte, molho a esponja, aperto-a para tirar o excesso e passo colher a colher após cessar o fluxo de água, transportando cada uma de um lado para o outro da pia. Sigo com copos, pires e xícaras, artefatos menores, sempre ensaboando e colocando do outro lado, ensaboando e colocando do outro lado. Terminam os artefatos e todos de um lado, a cuba cheia ainda. Inicio o fluxo contínuo da torneira, mas para ir passando de um lado para outro com os elementos ensaboados, retirando o sabão e os colocando no escorredor, um após um. Passo um feito, elementos pequenos limpos e escorrendo! 

Inicio o passo dois.

Agora é a vez dos pratos. Sinto o vento bater da janela a minha frente e tenho mais um momento de distração olhando o horizonte dois segundos de um milhão de minutos de uma vida que enchem o pulmão, fazem sorrir e até mesmo relembrar pessoas, momentos vividos e ensejar por outros por viver. Retomo a labuta. Os pratos exigem um pouco mais esforço. Movimentos giratórios, mas seguindo o fluxo de um lado para outro da pia, passando no meio intermediário pelo "ensaboamento" e retorna, na retirada do sabão no passar embaixo da torneira, com o meu aproveitar, ainda como um menino descobrindo a magia do fluir da água e do barulho relaxante daquele som natural, do momento de meditação. Mais alguns segundos de vida que parecem uma vida para quem sente isso. Pratos ao escorregador. Passo dois finalizado!


Passo três é o mais duro, limpar panelas, frigideiras etc. não tem magia, mas o ritual é o mesmo, de um lado para o outro, depois de volta e ida para o escorredor. As diferenças decorrem do esforço executado na limpeza, mas mais profundamente no entender que aquilo significa que comi, que tive forças para realizar uma atividade e preparar o início da próxima refeição. Os meninos irão para a escola alimentados e eu estou livre até a próxima refeição, não livre de afazeres domésticos, mas livre de culpa, cheio de sentimentos.

Finalizo olhando a janela a minha frente. Vejo um dos gaviões e ele, também livre, procura pelo alimento, logo, logo nos encontraremos novamente, ele caçando, eu lavando ou cozinhando.

Boas memórias 1....

 Em isolamento social e a memória é ativada com lembranças da infância, adolescência, etc e coisa e tal.

E do que lembrei recentemente?

Lembrei de um vizinho que tinha algum distúrbio mental que o fazia perfeito para crianças como aqueles personagens de filmes. Era alegre, embora grande. Permitia que os meninos se aproximassem e quando irritado, corria para nos pegar, mas quando pegava não batia, ria e ria e ria de ter pegado.

Parecia estar em constante alegria.

Lembro de ter visto uma vez um ataque epilético dele, me assustei, sua mãe veio e o levou, algumas horas depois ele estava novamente correndo e falando palavras não compreensíveis, mas cheias de alegria.

Enquanto criança via o Sr. Deleca como uma personificação de um história em quadrinhos de carne e osso. A aventura era garantida, sem maldade, apenas sorrisos. Eu tinha algo entorno de cinco anos, aos seis ou sete, lembro que ele se foi. 

Deus o levou! mas...

Com certeza ele completou a sua missão, alegrou muitos iguais a mim que brincavam sem maldade, apenas almejando encontrar um adulto com aspectos de criança o que ele tinha de sobra.

Viva a vida!

Lembranças boas no tempo de isolamento social.

Falei há um tempo de um ator da minha novela pessoal, o Sr. Deleca (Wanderlei). Aquela época tínhamos felicidades em gotas: a chegada da mãe com um doce ou com alguns trocados para irmos a bodega comprar um doce zorro, um embaré ou outro quitute; o compartilhamento da mistura no almoço ou jantar; a corrida na rua sem preocupação com carros em velocidade desproporcional ao civilizado; os cheiros de bruaca no final da tarde; o avanço na tentativa de escalar uma árvore; e uns sem números de coisas e brinquedos substituídos por pais que põem os filhos em brinquedos que brincam só, não sei se por desleixo, por medo ou por mudança do mundo mesmo.

De qualquer forma, hoje me bateu uma saudade de um hábito daquele tempo. Era algo um pouco estranho para os momentos atuais, mas que saudade daquela sensação, daquela experiência. Era impar e não encontro mais por ai.

Minha mãe pedia para eu ir comprar algo na bodega, chegava e aguardava com a mão atolada em um tambor de cereal, massageava a mão em um vai e vem onde as sementes passavam na mão entre os dedos, por vezes pegava um punhado do alimento (arroz ou feijão, geralmente) e enquanto o dono da bodega atendia a mim ou a outro eu levantava os grãos e soltava, completava a experiência com o medidor, fazia algumas contas de quantos grãos tinham ali ou o peso. O dono da bodega, quando percebia os movimentos olhava e entendia que não era certo, tirava a mão e em outra oportunidade repetia tudo novamente.
Que saudade de um tambor de cereal para atolar a mão passar algumas horas no vai e vem e esquecer que o mundo é outro.

PoeMar

 Ah que falta faz o Mar!

Dias distanciados, embora perto sem poder sentir:
a maresia
a maré
a mariscada
O Mar...
Ahhh a amplidão, extensão, imensidade, imensidão, vasteza, vastidão do Mar...
A areia para pisar, roçar o pé, friccionar, relaxar...
Marejei meus olhos de sentir a brisa cheia de sal da panela com peixe cozinhando na minha casa...
Ahhh longe do Mar...
Minha pele tostou de calor preso...
A água que se vai pelo ralo no banho não é a onda que me arrasta os pés, mas lembra de longe a sensação gostosa da velocidade estonteante de infância...
Ahhhh que saudades da água do Mar...
Destá que me vingo...
Me aguarde Mar!

A descoberta do Caranguejo Francisco.

Em um mangue muito rico de alimentos moravam caranguejos, siris, peixes, etc e coisa e tal. Neste local rico, todos viviam em harmonia e felizes, correndo pra lá, andando pra cá, entrando em um buraco aqui, saindo de um outro ali. Enfim, era lindo, mas eis que chega um bicho novo que procurava alimento e encontrou vários e deliciosos crustáceos, peixes, etc. e coisa e tal. Este bicho novo catava caranguejos e os levava para as quintas-feiras para nunca mais voltar.

Então surge o Francisco Caranguejo ele havia se safado da misteriosa quinta-feira e relatou aos amigos: É estranho, mas nos colocam em cordas, levam para a esquina de um colégio e os bichos amistosos que andavam antes no mangue apenas para sobreviver, chegam todos limpos e vestidos e entregam umas folhinhas ao outro bicho e levam cordas de nós com cinco, seis a oito, por vezes conversam mais um pouquinho e por alguns papeis a mais levam outros dois ou três de nós. Numa dessas trocas me levaram com Pedro de Terta, João de Maria, Josefina do lago, Luiza da curva, eu e outros que eu não conhecia, uns 15 ao todo. A viagem foi rápida e o Pedro de Terta assim que chegamos a residência se questionou:
- O que será que ele fará conosco?

Muitos "budejaram" palavras difusas, mas Luiza da curva observou que ele pegou uma bacia grande e encheu de água. Gritou ela:

- Ele vai dar banho em nós!

João de Maria subiu na "cacunda" de um e conseguiu ver um fogo, sais e ervas e gritou:

- Não, ele vai colocar nós para relaxar em água morna com sais e ervas!

Chegou o momento do nosso banho. No início relaxante, mas depois esquentou muito. Uns tentavam sair da bacia, mas o bicho "cutucava" com uma vara para voltarmos. Depois de um tempo não era mais ele que "cutucava", mas os outros caranguejos que puxavam quem tentava sair. Eu fiz um esforço enorme, pisei em vários, vi outros gemendo, alguns afogando e eis que consegui sair. O bicho homem tinha uma lata com espuma na mão e não notou minha "escapulida". Corri e entrei num buraco que me levou a vários canos que não sei como, traziam até o mangue.

Um caranguejo curioso (Thadeu de Tereza) falou:

- Mas lá deve ser melhor do que esta vida na lama comendo folha e carniças.

Francisco Caranguejo responde:

- Sei não Thadeu, mas não quero mais passar por aquilo. Prefiro vocês, aqui nós nos ajudamos, naquele ambiente éramos vários tentando sair e nenhum ajudava, aquela água que esquentava sem parar deixou todos extasiados a ponto de não querer que nenhum outro tomasse seu rumo. Gosto desta liberdade. Espero que eles estejam felizes, mas para mim o mangue é o melhor lugar do mundo.
E a vida é assim, uns querem ir para a panela fervente, outros para a paz do seu lugar...

Gildemir

Reflexões do filhão com cinco anos:

 O Sol é feliz

A chuva é triste
Raios e trovões são bravos
E até que as nuvens estão chorando porque estão cheias de lágrimas e tristes.
L.B. da Silva

As novas palavras aprendidas com meus pequenos.

 Um sodote pra comer de manhã com bananágua, assim inicia a inquetuda manhã.

O dia passa e fica irritentento quando se aproxima o almoço.

A tarde, descanço na relachosa e caprichenta rede.

Acordo, me levanto, olho para a janela e me pergunto: noitiou ou não noitiou?

Se não noitiou, vai noitiar, se noitiou então vou já já pausear a lua para poder me debrulhar.

Que lições terão os próximos anos?

Vívidas lembranças de dias passados.

Entranhados na memória como tatuagens que precisam de "coverapes" os coisas ruins não somem. Elas são cobertas aqui e ali por felicidades, por outros momentos ruins, mas não somem, estão marcadas embaixo da "coverape".

Passam, mas não passam.

Repousam em algum lugar e são ativadas no futuro.

E o nosso futuro será lembrar de alguns meses de 2020. Haverá "coverapes" feitas por negligencia de deixar as coisas acontecerem, de ficar recluso aos absurdos in-"humanos" e de achar que democracia se faz sem embates de ideias e argumentos.

Passam, mas não passam.

Repousam em algum lugar e são ativadas no futuro.

Ecoa no mundo uma irracionalidade pra lá de idiota. Não há eleitos com poder de fazer o que quer. Por definição ele foi eleito para fazer o que é coletivo, não individual.

A tatuagem destes momentos precisará bem mais que uma "coverape", talvez a amputação do órgão onde ela repousa. Porém, será lembrada, porque não há coisa pior do que esquecer o que é inesquecível.

Não passará, a tatuagem estará lá debaixo coberta pela "coverape" da insanidade coletiva.