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sábado, 25 de abril de 2015

Conversa entre trabalhadores - Parte 3 - No Sertão do Ceará!!!!

No inverno de 2015, chove mas não pega água na terra doutores... Andei por ai e constatei isso...Nem todo sertão é igual: uns tem muita água, outros tem pouca, uns prosperidade, outros tem sequidão... Enfim, andando pelo sertão do Ceará, conversei com alguns sertanejos e eis uma das conversas abaixo:
Oi dr. a ferrovia volta?

Eu respondo: não sei, não depende de mim, mas de repente?

O sertanejo continua:

- Era bons tempos os da ferrovia, quando faltava água vinham trens cheios de milho, feijão e até água. Tinha movimento na cidade!!! Agora, quando tem seca, não tem trem e a cidade fica deserta, na época do trem, pelo menos eles tinham a obrigação de passar por aqui, agora, com a seca e sem o trem, os caminhões e até os ônibus desviam desse caminho.

Eu digo que a modernidade é essa e que existirão dias melhores.

O Sr. me responde assim:

- Dr., nesse inverno chove, mas não acumula água... Nós dormimos até se acordar ou acordamos sozinho para não ver o pior. Triste fim dessa cidade... Agora não tem mais nada, só nos resta esperar o dia de amanhã... De repente, o presidente Juscelino vem por aqui esse ano... Sei lá Dr... Só sei que todo dia é a mesma coisa e não muda nada...

Eu pergunto:

- Muda sim dr... Veja ai as manifestações do povo na rua, etc e tal.

Então ele finaliza dizendo:

- Que manifestações? Aqui não tem disso não, tenho 70 anos e nunca vi um jornal vir aqui. Não sei nem se somos no Brasil ou na Africa... Só sei que de dois em dois anos vem um povo aqui pedir para agente ir à escola rural, apertar uns botões para um fulano que traz umas camisas com a foto dele que duram exatamente dois anos...

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Conversa entre trabalhadores - Parte 2 - No dentista!!!!

Novamente eu e minha eterna curiosidade do que os trabalhadores fazem.

Estava eu na clínica esperando meu dentista e eis que o auxiliar de serviços gerais pede para eu levantar os pés para ele varrer. Então, pergunto ao Sr.:

- Faz quanto tempo que trabalha aqui?

Ele responde:

- 25 anos, logo logo me aposento.

Continuo: E gosta do trabalho?

Ele diz que gosta muito e que com o serviço ele conseguiu formar seu filho dentista. Tenho certeza que ele irá trabalhar na clínica.

Fico super feliz com o resultado da vida do Sr. e estendo minha mão para apertar a dele. Ele estranha o gesto e resiste em esticar a dele... Digo, parabéns Sr. ti admiro muito... Eis que ele levanta a cabeça fita meus olhos e abre um sorriso vazio de dentes mas cheio de alegria.





quinta-feira, 9 de abril de 2015

Conversa entre trabalhadores - Parte 1

Tentarei ser sucinto. 

Nos últimos meses dediquei parte do meu tempo para ouvir trabalhadores e hoje iniciarei um conjunto de histórias que criei das conversas. O texto de hoje ocorreu hoje mesmo e me deixou pensativo, foi a conversa entre a funcionária que coletava os meus exames de sangue e eu e se deu mais ou menos assim:

06h30min do dia 09/04/2015, vejo meus filhos, beijo minha esposa e "#parto" para fazer a coleta anual de sangue para verificar qualquer distúrbio de saúde. Detectável!!!! Eu estava com uma fome do caramba, pois os exames exigem 12h de jejum... 

06h35min chego ao laboratório, entro  ao recinto e aguardo minha vez. Sinto a vontade, quase incontrolável, de tomar uma dose de café com bolachas secas que se encontram sob a mesa da recepção... Sorte que não demora muito para eu ser atendido.

Entro no local da coleta aproximadamente 06h36min e a coletora faz-me perguntas sobre a requisição, médico e tal... 

Eu a respondo e curioso pergunto: 

- Você faz estes exames periodicamente também?

 E ela me responde:

- Não Sr. eu não faço... Acho besteira, não precisa, além disso, meu dinheiro não sobra para isso.

Pergunto: Você tem quantos anos?

- Ela, meio sem jeito, me diz: tenho 44 anos.

Fico pensativo e pergunto, mas porque você não tenta fazer o exame outro dia, seria bom para você saber sua saúde.

Ela me responde:

- Sr. não tem tempo para fazer isso não... Eu saiu de casa às 05h00 para entrar aqui às 06h00, preparo material para o exame de vocês iniciar às 06h30min, saio às 12h e vou pegar meu filho no colégio (antes era na creche), chego em casa coisa de 15h e vou almoçar, lavar prato e limpar a casa (termina algo entorno de 17h15min), depois disso, vou estudar um pouco para o curso que faço nas segundas, quartas e sextas para ver se aumento meu salário (ganho entorno de 1 salário e meio com benefícios), preparo um jantar para meu filho e, nos dias de curso deixo ele com a vizinha.

Pergunto: e os finais de semana e suas férias? não pode ser atendida nos postos, lá não paga?

 - Bem, nos finais de semana os postos estão lotados de pessoas com tiro, motoqueiros acidentados, etc e tal, então acabo não sendo atendida para fazer uma besteira de um exame de sangue e quanto a férias: bem... Sempre às vendo para poder pagar as contas, portanto, minha rotina é essa desde sempre. Mas tenho esperança que meu filho terá um futuro melhor, de repente ganhará uns quatro salários e terá uma "motinha" para não enfrentar estes ônibus lotados... Se hoje são do jeito que são imaginem no futuro... Nada muda para melhor nessa vida só piora, o Sr. não vê ai os Jornais?

Respondo que não sou muito de jornais de TV e complemento com as últimas perguntas: e faz quanto tempo que você tem essa vida? Quando você vai se aposentar?

- Olha Sr.!!! Trabalho assim desde meus 16 anos, mas só assinaram minha carteira depois dos 22. Fui demitida algumas vezes, dizem que por justa causa, outras fizeram acordos, outras não sei porque, de qualquer forma, conforme contagem da previdência, só tenho 10 anos de contribuição, portanto, ainda devo ficar nessa toada por mais 20 anos, no mínimo para me aposentar... De repente me aposento com 60 anos se continuar na mesma pela aposentadoria urbana ou então, por idade aos 65 anos... Vamos ver... O que vier é lucro...

Ela tira o último tubo de sangue e me diz: pronto, as amostras já foram coletadas. Agora é aguardar os resultados. Mas o senhor vai estar bem Dr. está forte saudável, deve comer bem, sem preocupações e tal... Não se preocupe! Complementa de forma incisiva: 

- Dr. assista aos jornais, o mundo tá virado... Todo dia morre gente, é inflação na goela, etc e tal... O Sr. não sabe o que esta passando no mundo.

Agradeço sua "auto-estima" e digo um MUITO OBRIGADO. 

Saiu do laboratório pensando cá comigo: 

RECLAMAMOS DE BARRIGA CHEIA!!!!