Em mais uma das minhas saudosas viagens
conheci o espetacular estado do Piauí. Minha primeira incursão no local tinha
sido de passagem e no abrir da porta do avião, já havia sentido na pele o que
ele guardava a qualquer humano: Calor, mas muito calor. Dizem que um padeiro
que viveu a vida inteira neste estado brasileiro, foi ao inferno e desafiou ao
cão quem suportava mais calor. Enfim, minha viagem ao caloroso Piauí, me fez
valorizar as coisas pequenas da vida. Se passou mais ou menos assim:
Tratava-se de uma viagem longa e que
exigia, ao anoitecer, uma parada estratégica em um lugar que não ligava nada a
coisa alguma. Paramos no lugarejo e procuramos um local para ficar. Tínhamos
certeza que nada de luxuoso nos aguardava e assim procuramos, sem muita
pretensão, um cafofo com o mínimo de conforto e lá encontramos. Pegamos um
quarto individual cada e, cansado como estávamos, não titubeamos, fomos tomar
aquele banho e descansar.
Chego ao meu
quarto e a primeira experiência foi o chuveiro. Abri o registro na intensão de
espantar o calor e sinto que com a temperatura da água isso não aconteceria.
Parecia que a água vinha de uma fonte inesgotável de vapor, não esfriava nunca.
E olhe que não era um chuveiro elétrico. Tratava-se, talvez, da maior invenção
da humanidade, pois não precisava de nenhum princípio da termodinâmica para
conservar o calor.
Naquele momento, raciocinei um pouco e me
lembrei de uma amiga que disse que ao morar no Piauí utilizava, para tomar
banho, uma lata de leite ninho furada ao fundo com gelo dentro e então tive a
certeza que ela não era doida quando me contou aquilo, mas sim, muito da
sabida. Imitei a amiga e me senti mais confortável naquele local, embora,
depois do banho de chuveiro com uma latinha de leite de ninho furada no fundo e
cheia de gelo dentro, sai do banheiro quase tento um choque térmico, mas nessa
hora tive a sadia ideia de ligar o ventilador.
Eis que me deparo com a segunda situação,
o ventilador era adaptado ao Piauí: ligado no mínimo eu podia contar de um a
seis para o ventilador dar a primeira volta. Era um equipamento com um
regulador de velocidade contínuo, entretanto, dada a situação de inércia do
bicho, modifiquei para o máximo e observei que o máximo se equiparava a um
helicóptero em pleno vôo. Tentei ajustar, mas tudo em vão... De duas uma: ou
desligava, ou tentava dormir com o barulho do helicóptero no meu ouvido. Desligo
o bicho e vou dar uma volta para me refrescar e me deparo com toda a equipe de
viagem sentada do lado de fora conversando miolo de pote, pois se encontravam
na mesma situação. Aproveito o ensejo e entro na conversa. Passamos algumas
horas tentando curtir o momento, porque entrar no quarto só com muito, mas
muito cansaço... Dormir ali sem ventilador só quando fosse para capotar o que
aconteceu entorno de 10h da noite.
Entro no quarto, parto para a dormida... Cansado como estava não sentia nada,
apenas sono. E eis que vem a última situação... Quem morou no nordeste sabe da
máxima: calor vem seguido de chuva ou de muriçoca e para aquele local a
primeira opção quase nunca acontecia... Além disso, no Piaui os danados dos
pernilongos também têm que se refrescar e como nosso sangue tem temperatura
mais amena do que o Piauí, então, é do nosso sangue que eles gostam mais...
Acordo às 3h mais ou menos e me deparo com o lençol cheio de sangue: pensei cá
comigo: Eu menstruei? Olho para o teto e aquela ruma de muriçoca me incitava a
uma guerra... Pensei um pouco e disse: para acabar com elas tem que ter uma
estratégia de guerra e talvez por isso o ventilador com velocidade de um
helicóptero. Ligo o mesmo e descubro porque da sua voracidade, pois afinal tudo
tem um porque.
Cansado como estava, me incomodei
inicialmente com o ventilador, mas era melhor do que me senti um prato
apetitoso de muriçocas. Às 4h consigo dormir, mas eis que batem no quarto às 6h
me dizendo para retornarmos a viagem. Levanto-me e procuro o caminho do
banheiro com a certeza que eu sou é "azalado" mesmo e que de bom
mesmo é minha casinha lá no Ceará mesmo com aquela quentura, afinal até então o
máximo que eu senti foi um mormaço comparado aquele local inesperado na viagem...
Nenhum comentário:
Postar um comentário