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sexta-feira, 26 de julho de 2013

Aventura na Bélgica...

Tive grandes oportunidades de viajar e conhecer vários locais no mundo. Algumas tornaram-se aventuras inesquecíveis que tenho certeza contarei aos filhos, netos, bisnetos e o que vier. A que contarei aqui é, na minha cabeça, uma legítima estória de "troncoso", entretanto baseada em fatos reais.

Prestem atenção, pois tem que ser lida com cuidado...

Quem quiser conto ao vivo, porque ao vivo é muito mais legal...

Bem, a estória começou com uma reunião de amigos. Éramos cinco creio: eu (o único brasileiro), três amigos argentinos e mais alguém não me lembro de onde, enfim, combinamos fazer uma viagem barata para a ocasião, pegaríamos um metrô até uma estação de Lille (França), onde nos encontraríamos todos e de lá partiríamos de ônibus até a divisa com a Bélgica, atravessaríamos a divisa à pé e pegaríamos na estação um trem para uma cidade que tem muita história, chamada Yprê. Como podem ver, uma autêntica viagem multimodal.

Prosseguindo a estória, no dia combinado nos encontramos cedo (8h) e partimos... Conforme o trajeto, tirávamos fotos inesquecíveis... Chegamos a Yprê. A cidade sensacional, muita história da primeira guerra, alguns monumentos, um chocolate maravilhoso, enfim, tudo de bom...

Ficamos na cidade até um horário bem próximo das 6h da noite, mas então, terminado o turismo barato: creio que com a viagem até Yprê gastamos uns 30 Euros no máximo, contando com almoço e tudo... Quem comprou suvenires gastou mais...

Agora vem a aventura... O retorno.

Bem, o retorno foi da seguinte forma: primeira pergunta: que horas tem trem de volta? A resposta era: não sabemos? Para solucionar ao problema teríamos que ir a estação, pois não havia nenhuma informação na cidade, portanto, fomos a estação. Sem problemas até ai, pois já havíamos aproveitado o dia. Por sorte, um trem passaria ali daqui a 20 minutos.

Chegamos na estação em um lugarejo na divisa entre a Bélgica e a França e fomos para a parada de ônibus: vem agora a segunda pergunta: que horas passa o ônibus? A resposta foi: não tem informação alguma. Então decidimos esperar, já era noite, mas sem problema, não é possível que não tenha ônibus aqui. Então aguardamos valentemente em um frio de mais ou menos 5 graus Celsius negativo. Cabe aqui uma nota, quando você está no frio, se você permanecer nele por muito tempo, você pode estar com a roupa que for, seu corpo vai esfriar dr. e o frio é lasqueira...

Pois bem, aguardamos... E ai veio o primeiro ônibus... O motorista parou, olhou para nós e foi embora sem dizer nada... 30 minutos depois chegou o segundo ônibus, já estávamos na parada há mais ou menos uma hora e o frio troava mesmo com todas as roupas que  usávamos... Nessa situação sentimos por bem parar o ônibus na marra e então, tal como ativistas políticos nos prostramos na frente do busão... O lema era: O povo na rua pára o ônibus.

Então paramos e conversamos com o motorista... Detalhe só eu e outro argentino falávamos mais ou menos o francês, os outros parceiros se comunicavam com gestos... O motorista disse que estava indo para a garagem e que não tinham mais ônibus... Não acreditamos naquilo e decidimos aguardar mais um tempo...

E o frio comendo...

Aguardamos, aguardamos e nada... Então decidimos voltar a cidade do outro lado da fronteira... Fomos a um bar e o povo dizendo, sim tem ainda ônibus, corríamos para parada e nada de ônibus... Fizemos um esquema de esperar o trem e o ônibus simultaneamente, mas a distância entre a parada de ônibus e a estação ferroviária era de aproximadamente um km, portanto, tínhamos que nos dividir em três equipes para nos comunicarmos avisando a todos que o trem ou o ônibus vinha... Uma no meio do caminho e duas na ponta...

Ficamos nesse iô-iô por uma hora mais ou menos... vai, volta, vai, volta...Já não aguentávamos mais... O desespero, o frio, o sono, o cansaço, a desgraça da roupa que pesava, enfim, ô coisa ruim é frio.

Neve com certeza é coisa do cão...

Só brasileiro sem noção acha que ir para o exterior ver a neve é bonito, quero ver passando o que passei...

Depois de umas três horas indo e voltando, sem a certeza se tinha ainda um último ônibus ou um trem para nos levar não sei aonde, conseguimos pegar outra condução (um trem com destino a qualquer lugar)...

Dentro do trem descobrimos que ele ia para mais longe de onde pretendíamos ir, mas que de lá dava para pegar outro trem para ir a Lille. Ficamos felizes, pois iriamos chegar em casa, mas havia uma terceira pergunta: será que os horários dos trens serão sincronizados? A resposta era óbvia... Claro que não... Chegamos na estação para fazer a baldeação e eis que descobrimos que o trem tinha passado fazia 20 minutos... Já era quase 9 horas da noite... Estávamos pensando já em dormir na estação e o cara da estação nos expulsando... Agora era fato não tinha como ir para outro canto a não ser aquela cidade... Nem lembro o nome dela... Acho que era Tournai... Saímos da estação e perambulamos pela cidade por uma hora mais ou menos e conseguimos convencer um taxista a nos levar a Lille.

Veio agora a quarta pergunta da aventura: quanto custa a corrida de táxi até Lille? A resposta remetia a outra pergunta: temos dinheiro para pagar a viagem? A resposta era... Se tivermos é contato... E o detalhe é que quem tinha a maior parte do dinheiro era quem? Quem? Sim... Eu...

Bem, pegamos o bendito taxi... Olhávamos o taxímetro a cada instante... Contávamos centavo a centavo a rodada até chegarmos a estação Lille-Flandres... UFA...

Pensam que acabou... Acabou é porra...

Eu tinha que pegar o metrô para ir ao cité scientifique (campus universitário onde morava). E então vem a última pergunta: Tem metrô este horário (11h30) para lá? E ainda mais outra: eu tenho dinheiro para pagar o metrô? Bem as respostas foram: o último metrô está saindo e o meu dinheiro só dá para comprar a passagem... Corro e pego o metrô...

Chego a casa, suspiro e penso, agora vou me aquecer, pois era a coisa mais importante naquele momento. Poderia ter ouro na minha frente, mas o mais importante era estar quente.

E então deito e me agasalho. Pensam que acabou? Nada, quem disse que eu conseguiria me aquecer depois de umas 6 horas no frio?

Passo várias horas para me aquecer indo para o banheiro tomando duchas quentes e tal... Quando consigo reestabelecer o calor do corpo já era quase 2h... E agora não mais era a temperatura que me incomodava, mas a falta de sono que não vinha... Só me restava uma coisa... Descrever toda essa história para minha noiva que estava no Brasil, para justificar porque eu tinha me mantido incomunicável durante o dia... 

Vem a grande pergunta: se você fosse minha noiva, você acreditaria? Graças a Deus ela acreditou, porque depois de uma aventura dessa só me faltava perder a noiva...

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