Foram dois fatos que marcaram a minha vida e que passaram em
motéis... A primeira trata-se de uma estória de trabalho a segundo é um conto
semineurótico protagonizado por um amigo que considero muito e que de tão
inteligente teve que passar a noite em um motel...
Iniciando cronologicamente pelo segundo descrevo:
“Tenho um amigo de longas datas que fez o curso superior comigo. O cara
era um dos mais inteligentes da sala, notas altíssimas, programava que era um
trator e fazia contas que só ele faz... O bicho quando se ‘intertia’ com um
problema cabeludo só se aquietava se resolvesse a questão... Comparando
grosseiramente com os meninos de hoje, ele ia até finalizar o jogo...
Pois bem, esse cara insistente como era, passou umas 8 horas tentando
resolver uma questão e desenvolvendo um programa na universidade, quando se deu
por conta já era 22 horas e ele teria que ir embora. Como morava perto da
faculdade, parou seus trabalhos que já estavam terminados faltando apenas
alguns ajustes de ordem estética, e foi para casa...
O mesmo morava com os tios, senhores de pouco mais de 65 anos e sua
conclusão obvia era que os tios estariam dormindo aquela hora... Passou a mão
no bolso e identificou que esquecera suas chaves...
Olhou consternado para a casa e decidiu não incomodar os senhores em
seu sono... perambulou pelas ruas do bairro atrás de uma dormida, mas em bairro
de subúrbio de dormida ou sua casa ou um motel... Encontrou um motel boníssimo,
tipo assim um calabouço e foi entrando a pé, sozinho, com livros nas mãos, de
óculos e cabisbaixo... O porteiro olha e diz: como vai ser a noite em Dr.? Ele
levanta a mão e mostra ela de punhos cerrados com movimentos de vai e vem
querendo dizer....
Estudo Dr... Estudo!”
A segunda estória envolve uma
viagem que tive a trabalho e ocorreu no período de apagão aéreo brasileiro... A
estória foi mais ou menos assim:
“Chego ao aeroporto aproximadamente duas horas antes do meu vôo, pois
fui de ônibus. Deparo-me com a situação de atraso da companhia que será de umas
2 horas e que prontamente é regularizada para um atraso de 4 horas... Penso um
pouco e decido procurar o que fazer, afinal, tenho que ficar no aeroporto por
umas 5 horas da minha vida.
Dou aquela caminhada a la Tom Hankis no aeroporto e descubro que
existiam salas de cinema lá e que, notoriamente, estava a passar um filme do
Cartola em uma das salas. Obviamente me senti um sortudo, vôo para São Paulo atrasado
4 horas e um filme do Cartola para assistir, nada mais sensacional a conclusão
óbvia era: vou assistir ao filme. E assim o fiz.
E não me arrependi ainda mais que ao sair da seção, encontro o letreiro
com o aviso que meu vôo iria atrasar mais 2h, portanto, 6h de atraso... Agora
comecei a me preocupar... Estava com vôo marcado para Congonhas e lá fecha às
10 ou é 11 horas... Iria chegar em São Paulo depois das 12h e provavelmente
iria pousar em Guarulhos... Nessa hora me lembrei da frase que sempre pronuncio:
‘o que é um peidinho para quem está todo cagado’... Para confirmar minha
reserva no hotel decido ligar para o atendimento deles e falar do ocorrido...
Ligo e eles me falam: não podemos garantir nada, se chegar alguém depois das
10h eles o alocaram onde tiver vaga e a minha reserva era uma potencial
candidata... Enfim, abstraio e prossigo na minha incursão visual no
aeroporto...
Chega a hora do embarque e o vôo foi direcionado para Guarulhos e a
companhia disponibilizou um ônibus para Congonhas, ou seja, pratiquei da tão
almejada multimodalidade... Eis que no caminho converso com o motorista e ele
me alerta que, por conta do horário, provavelmente não haverá taxi ou condução
de Congonhas para qualquer parte de São Paulo, pergunto a ele se ele pode me
deixar na Paulista e ele diz: Posso... Nessa hora aproximadamente 2h da
madruga, tive a certeza que havia recuperado minha sorte, de repente minha vaga
no hotel estaria disponível e eu precisava dormir até às 6h para me acordar,
tomar banho e café e ir a reunião às 8h no local combinado.
Chego ao hotel e a recepcionista me diz: Não tem vaga... Agora era 2h
em ponto... Concluo que terei que dormir na rua e como de relance avisto a
placa de um motel... A salvação... vou na recepção do dito cujo e falo com a
recepcionista que me diz, tem vaga, mas o quarto estava em reparos e está com
‘cheiro’, se é que pode se chamar de cheiro, de tinta. Naquela hora eu não
tinha nenhuma ‘frescura’ e disse: Aceito. Vou ao quarto para o sono dos justos
e dormindo cansado, com uma ‘catinga’ de tinta do carai, uma cama que parecia
um repositório de acaro, um barulho ensurdecedor de frigobar com gás vazando e
uma luz avermelhada ao lado, escuto repetidamente como se fora um efeito
Doopler: não para, não para... ah... ah... ah... não para, não para... ah ah...
As 6h acordo, procuro um local para o meu café e vou a reunião e nela
um amigo pergunta: parece que sua noite foi agitada em São Paulo em?”
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